Em meados de setembro, a Bradesco Seguros terá compilado todos os dados de uma pesquisa vivencial realizada nos últimos seis meses em favelas do Rio de Janeiro – a Rocinha é uma delas – e em São Paulo, a Heliópolis. As famílias de convivência, como são conhecidos os pesquisadores que vivem nas favelas com o intuito de conhecer o modo de vida local, fazem parte do Projeto Inclusão da seguradora, iniciado em 2008 e previsto para terminar em 2012.
Antecipando-se à regulamentação do microsseguro, a seguradora saiu na frente e já tem em mãos alguns dados que ajudam a conhecer o seu público alvo. De acordo com o diretor da Bradesco Vida e Previdência, Eugênio Velasques, já se sabe, por exemplo, quais as maiores necessidades de proteção das famílias de baixa renda. No topo da lista está a morte, seguida pela perda do patrimônio, perda do emprego, doenças, e, por fim, pela incapacidade e velhice. Outros dados que ajudam a compor o perfil desses consumidores são a faixa etária com maior probabilidade de comprar seguros, calculada entre 20 anos a 55 anos, e a renda disponível, em torno de R$ 800,00.
Com duas agências bancárias em favelas, uma na Rocinha e outra em Heliópolis, o Bradesco, o banco, tem algumas contribuições a dar à seguradora do grupo. Em Heliópolis, por exemplo, para atingir o volume atual de 600 contas abertas, os funcionários captaram clientes de porta em porta. “Ninguém acorda com vontade de abrir uma conta. Por isso, a lição é que o seguro tem de ir até as pessoas”, diz Velasques. O aprendizado serviu à seguradora Bradesco na venda de um produto por R$ 3,50 mensais e indenização de R$ 20 mil para cobertura de morte e invalidez.
O produto, batizado como “Primeira Proteção Bradesco”, curiosamente não tinha esse nome quando foi desenvolvido. Segundo Velasques, todo material de divulgação estava pronto, quando uma pesquisa realizada no Dona Marta trouxe a surpreendente conclusão de que os moradores não gostavam da palavra “seguro”, porque representava algo complicado e inacessível. “Trocamos o termo seguro por proteção e refizemos todo o material”, diz. A mudança parece ter dado resultado. De acordo com o executivo, até agosto último a empresa havia vendido 300 mil apólices e registrado um único sinistro. “Infelizmente, este é o primeiro sinistro que vamos regular. Mas o seguro estará cumprindo sua função social”, diz.
Novo canal
Um dado importante para o sucesso do microsseguro, obtido por meio de pesquisas realizadas tanto no Dona Marta quanto na Rocinha e em Heliópolis, diz respeito à preferência dos moradores pelo consumo em microcentros, como padarias, açougues, mercearias, bancas de jornal e outros. Descobriu-se que entre esses estabelecimentos, aqueles que atuam como correspondente bancário apresentam grande potencial de vendas de produtos financeiros e de seguros.
“O grande trunfo do correspondente bancário é a credibilidade, já que o negócio é conduzido por um morador da comunidade”, afirma Velasques. Mas, a venda de microsseguros nesses locais, segundo ele, dependerá da coordenação de corretores de seguros. “Se os corretores desprezarem esse canal, poderão perdê-lo, porque, certamente, surgirá alguém que fará riqueza com isso”, avisa.
Sua previsão é que o microsseguro possa elevar a participação.
Fonte: Midiaseg